O PRIMEIRO bikepacking spino - VALE DOS VINHEIROS E VALE DO CAÍ

Era uma vontade antiga organizar um bikepacking com amigos e clientes. Juntar um grupo e colocar as bikes a prova pra aquilo que foram feitas: viajar, e de preferência longe do asfalto. No final de Julho, surgiu a oportunidade perfeita: numa sexta feira, o Ramon, um cliente nosso, estaria vindo de Indaial a Porto Alegre só pra buscar sua nova Spino, e estava afim de estreiar ela logo. A previsão prometia um final de semana de calor atípico para o nosso inverno, e perfeito pra um pedal. Como já estava nos planos fazer um giro pela região dos vinhedos, resolvemos juntar tudo. Convidamos alguns amigos, e rapidamente, estava formado nosso grupo.

Na madrugada de sábado, subimos de ônibus rumo a Bento Gonçalves. Chegamos lá cerca de 7h30 da manhã, montamos as bikes e seguimos viagem. A ideia era cruzar boa parte da região viticultora, passando por Garibaldi até chegar em Farroupilha para dormir. Para viajar com carga leve, resolvemos alugar acomodação, evitando assim mais peso num trajeto que prometia muita altimetria. 

Logo no acesso ao Vale dos Vinhedos, experimentamos uma longa e prazerosa descida de asfalto, que seria sucedida por bastante esforço logo adiante. Não eram nem 9hs da manhã, e o sol já era forte o suficiente pra gente começar a tirar o agasalho. Após cerca de 10km percorridos, chegamos ao esperado final do calçamento, onde a diversão ia de fato começar. 

Como o nome diz, a região toda é repleta de vinhedos e vinícolas, e de paisagens realmente bonitas. Em alguns pedaços da rota, fomos parar dentro de propriedades particulares, e tivemos que cruzar trechos a pé por dentro dos parreirais. Em outra parte mais adiante, havia uma passagem por dentro de mata fechada, que nos fez bater cabeça se a rota era mesmo por ali. Tudo virou diversão, e logo adiante encontramos novamente a rodovia. 

Uma das coisas mais legais de pedalar na serra essa época são as árvores frutiferas ao longo de praticamente toda estrada, garantindo laranjas e bergamotas (tangerinas) incrivelmente doces pra lanchar. E como o caminho era bastante povoado, era facil arrumar uma torneira pra reabastecer as caramanholas.

Quando completamos os primeiros 40km, a fome chegou e era hora de achar um lugar pro almoço. Como era sábado, todos os restaurantes dentro do Vale estavam lotados, e naturalmente bem caros. Decidimos esperar chegar em Garibaldi para fazer a pausa pro almoço lá. Logo na entrada da cidade, encontramos um local que parecia interessante e resolvemos parar ali. 

Com a turma descansada, seguimos viagem agora na direção leste. Daquele ponto em diante, começaria um trecho com bastante subida até  Farroupilha. Após cruzar as rodovias, logo voltamos pro cascalho e seguimos viagem. Agora, a paisagem era mais diversa, cheia de propriedades rurais e pequenos vilarejos tipicos das colonias da região. 

Com 55km percorridos, chegamos na represa de São Miguel, onde escolhemos fazer uma parada pro cafezinho. O relógio marcava 16h30, e o sol de inverno começava a cair. Dali até a acomodação faltavam ainda cerca de 10km de bastante subida, e a parada nos permitiu curtir o resto de luz com calma.

O último trecho do dia foi também o mais puxado, com uma longa subida até a entrada de Farroupilha. A estrada movimentada nos obrigava a usar o (quase inexistente) acostamento, indo mais lentamente do que gostariamos. Quando a escuridão tomou conta, já estavamos dentro da cidade, e faltavam poucos quilometros pro descanso.  

O dia terminou tranquilo, e pra nossa sorte, logo ao lado do hotel havia um dos melhores rodizios da cidade. Certamente pizza não é o melhor pós treino, mas a gente não ia perder a oportunidade de comer bem e comemorar o ótimo dia de pedal que tivemos. 

O roteiro do segundo dia prometia ser bem diferente do anterior. O trecho a ser vencido tinha quase 100km, predominantemente de estrada de chão, e com bem mais descidas do que subidas. Logo ao sair de Farroupilha, ingressamos numa estrada de encosta de morro que foi certamente um dos trechos mais bonitos que já pedalei. O relevo ao fundo e a paisagem rural no entorno, somado a uma longa e constante descente nos fizeram ir mais devagar só pra aproveitar a vista.

Logo a frente, o asfalto novamente acabava, mas as descidas não. Em alguns trechos de pedras soltas, tivemos que desmontar da bike e percorrer a pé em alguns momentos. Entre os cenários, um que nos chamou a atenção foram as plantações de pessego, que aquela altura do ano estavam completamente floridas e formavam uma paisagem espetacular. 

Ao final das longas descidas, chegamos ao Vale do Caí, e o trecho a partir dali iria costeando o rio. Como já se aproximava do meio dia, começamos a ficar atentos por um lugar para conseguir almoço. No interior, nem sempre é facil encontrar opções domingo, mas dessa vez demos bastante sorte. Logo adiante, passamos por um clube onde acontecia a Festa do Colono da região. Bem na hora que chegamos, estavam começando a servir o galeto, e pra nossa sorte, haviam ainda ingressos a venda.

Uma das coisas mais legais de viajar de bike sem muito planejamento é justamente a quantidade de surpresas que o trajeto reserva. A excelente gastronomia típica, e a oportunidade de mais uma vez vivenciar algo tão verdadeiramente colonial traz uma sensação de imersão diferente. 

E após um almoço mais generoso do que um pedal desse tipo recomendaria, era hora de reunir forças e seguir adiante, pois ainda restavam mais de 50km até o destino final.

Na ultima parte da nossa viagem, tivemos que apertar um pouco o ritmo pra evitarmos pedalar demais a noite. Com o cansaço já acumulando, as paradas foram sendo mais frequentes. Nos últimos 25km, já era noite escura, e optamos por ir pela rodovia, nos desviando um pouco da rota inicialmente planejada, evitando assim chegar de volta muito tarde.

Quando avistamos a estação de trem em São Leopoldo, já passavam das 21hs. Apesar do desafio que é pedalar em um grupo de 8 pessoas, chegamos todos juntos e bem, sem nenhum problema ou incidente nos quase 170km percorridos. A experiência foi realmente positiva, e ficou a promessa de repetir no futuro. Quem sabe dessa vez, em um roteiro fora do RS. 

Quem pedalou conosco:

@pedaltrips – fotografo e planejador desse roteiro foda!
@jpcollato 
@renatomartan
@muddesignsbike
@gustavoazro
@pioramon
@viniciusferreiradc

Veja o mapa detalhado do pedal: