ROTA ROMÂNTICA - IVOTI A NOVa PETROPOLIS

Normalmente uma viagem de bike pode levar meses sendo planejada, e dependendo do ciclista, até mais que isso. Mas no caso dessa aqui, foi na noite anterior que tudo se decidiu. A ideia era simples: subir a Rota Romântica até Nova Petrópolis (RS) pelo lado oeste, encarando um pouco de cascalho, estradas pitorescas e, claro, bastante subida. O caminho era quase desconhecido para nós, mas isso era o que menos importava, pois a ideia era mesmo ir atrás de um pouco de desafio. 

Quando chegamos na estação para pegar o trem que nos levaria ao início do roteiro, eram 10hs da manhã. O sol já estava alto, e logo sentimos algum arrependimento de não ter saido da cama mais cedo. O trajeto no trem serviu pra gente estudar um pouco o mapa, e calcular o tempo que levariamos até nosso destino. Como era final de primavera, teriamos luz até mais tarde, e com sorte, chegariamos antes do anoitecer.

Partindo da estação de Novo Hamburgo via Estância Velha, os primeiros 30km até o Núcleo de Casas Enxaimel, na saída de Ivoti, foram vencidos com alguma tranquilidade. Haviamos superado apenas cerca de 400m de altimetria, menos de 1/3 do total planejado pro dia. O sol forte começava a pesar, e decidimos parar para comer e descansar. 

Justamente naquele Domingo, aconteceria o jogo de abertura da Copa do Mundo do Catar, e em toda aquela região havia uma forte mobilização da colônia alemã. Além das bandeiras e decorações, o que mais nos chamou a atenção foi ver a atmosfera absolutamente festiva. Nos pátios e varandas das residências, familias se reuniam para o almoço de domingo vestindo trajes típicos, e as conversas que podiamos ouvir eram quase que exclusivamente em alemão.

Na segunda metade do trajeto é que o desafio começou a ficar maior. A subida em direção a Presidente Lucena acabou nos tomando mais tempo do que esperavamos, e procuramos não forçar o ritmo em momento nenhum, sabendo que o pior trecho estava por vir. Nosso objetivo era fugir das estradas movimentadas, justamente para conhecer as localidades menores. Nossa próxima parada seria na cidade de Linha Nova, pequeno município no alto da serra. Até lá, faltavam apenas 8km, mas quase 400m de altimetria a serem vencidos. 

Em praticamente todo o pedal com muita subida, em algum momento chegamos a um ponto de exaustão, onde começamos a nos questionar se aquilo tudo era mesmo uma boa ideia. Na interminável subida até Linha Nova, foi onde tivemos o nosso. Completamente esgotados pelo dia de sol incessante, já estavamos quase sem água. As pernas já não davam conta da inclinação do trecho, e nos vimos obrigados a empurrar as bikes morro acima. 

Confesso que não me lembrava te já ter enfrentado uma elevação tão forte anteriomente. Quase no final dela, houve um momento onde nem mesmo a pé conseguiamos ir adiante, e tivemos que parar e literalmente deitar na grama pra recobrar um pouco o folego. Daquele ponto, a vista do Vale dos Sinos era impressionante, e nos dava uma dimensão do quanto haviamos subido.

Ao chegar em Linha Nova, sabiamos que o pior havia passado, e que a partir de lá poderiamos curtir um pouco mais o trajeto. Logo na entrada da cidade, em frente a um sitio, avistamos uma pequena banca de frutas que nos chamou a atenção. Ali paramos, e aproveitamos para abastecer nossos alforjes com mirtilos, mini melões e outras variedades de frutas de que além da aparência suculenta, eram incrivelmente doces. 

A tarde começava a cair, e antes de seguirmos para a ultima parte do caminho, decidimos que seria melhor fazer um lanche. Já que a especialidade da região é cervejaria, escolhemos parar numa delas, onde havia uma ampla área externa pra deixarmos as bikes. Além de muito bem recebidos, a comida era realmente muito boa, nos fazendo refletir sobre o quanto se come bem no interior.

Até nosso destino final, ainda restavam 16km de subidas e com um bom trecho de estrada de chão, e inevitavelmente fariamos boa parte dele após anoitecer. Bem alimentados porém, tudo parecia mais fácil. Quando o ultimo resto luz desapareceu, deu lugar um céu bastante estrelado e uma temperatura bem mais agradável.

Pedalar a noite, escutando o som dos pneus na estrada de chão e do vento batendo nas árvores foi algo meditativo. Conforme Nova Petropolis ia se aproximando, começavamos a avistar as luzes de natal pelas fachadas das casas. Era quase Dezembro, e as atividades do turismo de natal na serra gaúcha já estavam a todo vapor. 

Quando finalmente chegamos em nossa acomodação, passavam das 22hs e não havia mais nenhum lugar aberto para jantar. Por sorte, nossa ultima refeição havia sido generosa, e tivemos que nos contentar com as frutas e snacks que haviam sobrado na bagagem. Bem alimentados ou não, era hora de descansar para a volta. Nessa noite, as câibras nos perseguiram por algumas horas antes de conseguirmos finalmente dormir. 

O dia seguinte amanheceu bastante nublado e abafado, dando a sensação que a chuva mais cedo ou mais tarde nos encontraria. O cansaço acumulado ainda pesava bastante, apesar da boa noite de sono. Mas como era de se esperar, descer a serra foi bem mais fácil e rápido que subir. Nos primeiros 20km da volta, praticamente não tivemos que pedalar, e foi possível curtir a vista e o vento no rosto. Ainda haveriam 2 subidas até chegar em casa, mas comparadas ao dia anterior, não chegavam a assustar. 

Em nosso trajeto da volta, o percurso total demorou pouco mais de 1/3 do tempo no dia anterior. As duas subidas maiores foram bem mais tranquilas, e apesar do cansaço e do calor, a altimetria negativa nos dava tempo de sobra pra ir descansando. Quando chegamos de volta a estação de trem, o relógio marcava 17hs, e a chuva, para nossa sorte, ainda não havia dado as caras. 

Nosso trajeto total totalizou 120km e quase 1.900m de altimetria em 2 dias de pedal, e foi bastante acessível e recompensador pelas vistas e experiências que nos proporcionou, apesar da dificuldade de alguns trechos de subida. A Rota Romântica oferece uma diversidade incrível, que gostariamos de explorar mais futuramente.

Veja o mapa detalhado do pedal:

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