ROTA ROMÂNTICA - NOVO HAMBURGO A SANTA MARIA DO HERVAL
Da janela do trem em direção a Novo Hamburgo, se via ao longe o recorte da serra se formando no horizonte. A temperatura abaixo dos 10º numa manhã ensolarada nos dava a certeza de que tão logo o sol caísse, o frio viria com força. Nossa missão então era chegar na nossa cabana antes disso. Cerca de 70km e bastante elevação nos separavam do destino do dia.
Descendo do trem, montamos nas bikes e sem perder muito tempo rumamos em direção a Dois Irmãos. Percorrendo uma estrada interna paralela a rodovia, já na saída da cidade ingressamos em uma via rural de estrada de chão. Logo no primeiro trecho, veio a prévia do que seriam os próximos dois dias: a primeira “subidinha” tinha cerca de 220m de altimetria a ser vencida. O esforço inicial serviu pra começar a aquecer o corpo.
O sobe e desce do primeiro trecho foi ficando mais intenso a medida que nos aproximávamos de Dois Irmãos. Quando do alto vimos a cidade aparecer entre os morros, já veio a vontade de fazer a primeira parada pra descansar. Entrando na zona urbana, decidimos parar para comer alguma coisa, antes de entrar de vez nos caminhos rurais que nos levariam até Santa Maria do Herval. Até ali, o caminho era bem povoado, mas logo adiante nossas opções seriam mais escassas.
Como o sol do final de Maio já se põe cedo, nem bem eram 14h e já se via os raios de luz cada vez mais escassos. Dali até o pôr do sol não demoraria tanto tempo. Havíamos atrasado razoavelmente nosso planejamento inicial, e isso certamente nos custaria horas de escuridão mais tarde. Os primeiros 10km após de sair de Dois Irmãos foram tranquilos e em ritmo bom, enfrentando bastante relevo, mas nada acentuado demais. Ao chegar mais próximo da metade do trecho porém, as subidas começaram a ficar mais intensas.
Eram pouco mais de 16hs e a luz do sol começava a ficar escassa. Ao passarmos por uma ponte pitoresca, num cenário digno de uma pintura, vimos que ali era nossa última chance de parar e tomar um café antes da escuridão que não tardaria. A parada nos tomou alguns minutos, mas foi importante pra se alimentar e aquecer o corpo. O frio começava a aumentar, e a umidade da mata tornava a sensação térmica ainda mais baixa.
Já havíamos percorrido 2/3 do trecho do dia, mas o terço final é que reservava a pior parte. Ainda faltavam mais de 900m de altimetria total a ser vencida, e as pernas já davam claros sinais de cansaço. Paramos algumas vezes pra alongar e respirar, tentando vencer a cãibra e a dor. Nesse ponto, a subida parecia interminável, e por muitas vezes o jeito era descer e empurrar um pouco, ganhando alguns minutos de relativo descanso.
Ao vencer a subida do acesso, avistamos a RS 873, que nos levaria ao centro de Santa Maria, cruzando em frente a nós. Descemos a rodovia ingreme em alta velocidade, na escuridão completa e enfrentando o vento gelado dos 6º que faziam naquela noite. O centro da cidade fica num vale cercado de elevação pra todos os lados, e nossa cabana estava na em uma delas, mais 300m acima do centro. O jeito era novamente enfrentar a subida. Com todo mundo cansado e com fome, percorremos o trecho final suplicando por algum lugar aberto para comer. Faltando menos de meio quilômetro para o destino, avistamos um restaurante já fechado, mas com luzes acesas. Perguntamos se poderiam nos atender, ao que a resposta positiva foi extremamente cordial. Nos serviram ali uma das melhores Ala Minutas que tenho memória.
Horas depois, no conforto da cabana e aquecidos pelo calor da lareira, tivemos o descanso necessário. Dormir confortavelmente naquela noite foi fundamental, e acordamos refeitos. Ainda que com menos descidas, o segundo dia teria bastante subida. De volta a estrada, descemos em direção ao centro de Santa Maria novamente, e ali ingressamos na estrada para Picada Café. O caminho ia costeando o rio, passando por algumas quedas de água e vistas incríveis da região. Quando chegamos na área urbana de Picada, já passavam das 14hs, e decidimos fazer uma parada para comer. Dali, teríamos um bom trecho de descidas e trajeto mais plano por algumas horas.
O nosso segundo dia de pedal foi evoluindo num ritmo bem mais tranquilo que o primeiro. A maior subida, no acesso a cidade de Ivoti, foi certamente a parte mais difícil da jornada. Ao cruzar ela, já estávamos dentro da cidade. Dali em diante, começamos a ver a densidade do trânsito e o movimento urbano aumentar. Já sabíamos que o pedal estava chegando no fim.
Num total de 110km, realizamos mais de 2.400m de altimetria num percurso onde predominaram as estradas de chão planas e agradáveis de pedalar. O pedal, apesar de desafiante, é uma boa dica pra explorar o início da serra gaúcha, e descobrir um pouco das pequenas cidades dos arredores do Vale dos Sinos.
O mapa detalhado do pedal:
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